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    A relação "ganha-ganha" entre China e Brasil como modelo de cooperação Sul-Sul

    A China sempre viu e desenvolveu suas relações com o Brasil a partir de uma perspectiva estratégica e de longo prazo

    Bandeiras do Brasil e da China (Foto: Reprodução/Embaixada Brasil na China)

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    Por Jiang Shixue (*) - Há 50 anos, a República Popular da China e o Brasil estabeleceram relações diplomáticas. Desde então, as relações políticas, a cooperação econômica e comercial e os intercâmbios humanísticos entre os dois países se desenvolveram rapidamente. Até certo ponto, a cooperação China-Brasil se tornou um modelo exemplar de cooperação Sul-Sul. Como maiores países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes do Ocidente e do Oriente, China e Brasil compartilham uma ampla gama de interesses comuns. A China sempre viu e desenvolveu suas relações com o Brasil a partir de uma perspectiva estratégica e de longo prazo, colocando a relação China-Brasil como uma prioridade diplomática. Em um futuro próximo, a China pode continuar a promover o desenvolvimento das relações entre os dois países em diversas áreas.

    A China pode investir na melhoria da infraestrutura e da estrutura econômica do Brasil. A infraestrutura do Brasil é muito precária, criando um "gargalo" persistente para o crescimento econômico. Além disso, a economia do Brasil é excessivamente dependente do setor primário, resultando em uma estrutura econômica deformada. Nenhum desses problemas econômicos pode ser resolvido sem investimento. Para o Brasil, que é frágil em acumulação de capital, o investimento da China pode, obviamente, desempenhar um papel importante para alavancar as exportações de carvão vegetal. Portanto, enquanto o Brasil continuar a melhorar seu ambiente de investimento, a China deverá expandir seus investimentos no Brasil.

    A China também pode ajudar o Brasil a melhorar seu status internacional. A confiança dos brasileiros é tão forte que eles costumam dizer que deus é brasileiro. Essa autoconfiança permitiu que o Brasil desempenhasse um papel importante como potência regional na América Latina e aspirasse a se tornar um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU em um futuro próximo. A China apoia o Brasil nessa busca de desempenhar um papel ainda mais importante na arena internacional e, portanto, tem apoiado ou cooperado com o Brasil em várias questões relacionadas à reforma do Conselho de Segurança da ONU, bem como em outras searas. Sem dúvida, a cooperação entre China e Brasil pode contribuir não apenas promover a reforma do Conselho de Segurança da ONU, mas também para ajudar o Brasil a realizar seu sonho de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU em uma data próxima.

    É claro que a cooperação entre China e Brasil é uma situação real de "win-win". Portanto, no futuro, o Brasil também pode contribuir substancialmente no relacionamento entre os dois países em diversos aspectos.

    O Brasil pode contribuir para o desenvolvimento econômico da China. Desde a reforma e abertura implementada na China, suas relações econômicas externas se desenvolveram rapidamente. Para garantir que sua economia mantenha uma alta taxa de crescimento, a China precisa importar grandes quantidades de produtos primários do exterior. O Brasil é um país vasto, capaz de produzir uma grande variedade de produtos agrícolas e matérias-primas. Não é exagero dizer que todos os produtos primários de que a China precisa podem ser encontrados no Brasil. Além disso, a capacidade de fabricação do Brasil não é forte, e uma grande variedade de produtos manufaturados precisa ser importada do exterior. Portanto, o Brasil é um grande mercado para os produtos manufaturados da China e um dos melhores parceiros para a China buscar cooperação em termos de capacidade no exterior.

    O Brasil também pode contribuir para a reunificação antecipada da China. A reunificação rápida da pátria-mãe é uma parte importante do sonho chinês. Até o momento, 12 países no mundo ainda mantêm as chamadas relações "diplomáticas" com Taiwan. O Paraguai é o maior desses países e o único país sul-americano que não estabeleceu relações diplomáticas com a República Popular da China. O Brasil é vizinho do Paraguai, e ambos os países são membros do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), que tem grande influência na América Latina. Portanto, é possível que o Brasil convença o Paraguai a aceitar o "princípio de uma só China" em uma data próxima, já que este representa o consenso geral da comunidade internacional uma norma básica nas relações internacionais correntes. É claro que a China nunca interfere nos assuntos internos e externos de outros países. O fato de o Brasil estar disposto a persuadir o Paraguai depende inteiramente da vontade diplomática do Brasil.

    Além das questões mencionadas acima, que estão intimamente relacionadas aos nossos respectivos interesses nacionais, a China e o Brasil também têm muitas oportunidades de cooperação em outras muitas áreas.

    Por exemplo, os dois países podem trabalhar juntos na promoção da cooperação geral da China com a América Latina. O documento de política do governo chinês sobre a política da China em relação à América Latina, publicado em novembro de 2016, propõe explicitamente a promoção da cooperação geral entre a China e a América Latina. Sem dúvida, até o momento, essa nova abordagem de cooperação obteve algumas conquistas, sendo a mais notável delas o fato de que, sob o mecanismo especial do Fórum China-América Latina, os dois lados convocaram muitos fóruns regularmente ou ocasionalmente para elaborar projetos de alto nível sobre como promover a cooperação China-América Latina. Para desenvolver ainda mais o papel desse mecanismo, a China e a América Latina devem se manter atualizadas e elevar sua cooperação geral a um novo patamar à luz da situação em constante mudança. Na busca desse objetivo, a posição do Brasil não pode ser subestimada. Em outras palavras, no processo de como promover a cooperação geral entre a China e a América Latina e como implementar os programas de ação alcançados em vários fóruns, a China e o Brasil devem desenvolver uma cooperação tácita.

    Outro exemplo é que os dois países podem fortalecer a cooperação no processo de promoção do BRICS. Com a expansão da organização do BRICS, a coordenação de políticas se tornou mais difícil, assim como a cooperação econômica. A "tração nas três rodas" (cooperação política, cooperação econômica e comercial e intercâmbios humanísticos) adotada pela organização na última década pode mudar no futuro e pode até se tornar uma "tração nas duas rodas". Nesse contexto, como evitar que a organização se torne um "clube de conversação" é uma questão importante que os membros devem considerar. Por um lado, após a eclosão do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a influência da Rússia na organização BRICS foi afetada em maior ou menor grau; por outro lado, a desconfiança da Índia em relação à China e sua postura incerta em relação à política externa fizeram com que ela relutasse em participar ativamente da cooperação do BRICS. Portanto, a China e o Brasil devem mostrar seus respectivos papéis na comunicação e cooperação eficazes na definição de questões para a cooperação do BRICS e na implementação da declaração da reunião de líderes. Pode-se afirmar que a força da futura cooperação do BRICS está intimamente relacionada à capacidade da China e do Brasil de cooperar bem.

    Outro exemplo é que os dois países podem desempenhar um papel importante no aperfeiçoamento do processo de governança global. Os problemas globais são abundantes, e a maneira de lidar com eles é a governança global. As posições dos países desenvolvidos em muitas questões de governança global não apenas deixam de promover a governança global, mas até mesmo a prejudicam. Por exemplo, a supressão dos novos veículos provenientes da China pelos Estados Unidos e pela Europa obviamente não favorece a governança climática global e a governança ambiental global. Em face dos desafios à governança global, a China e o Brasil devem fortalecer a cooperação e se opor claramente ao "dizer uma coisa e fazer outra" dos países desenvolvidos.

    A relação China-Brasil criou três "novidades": o Brasil é o primeiro país do mundo a estabelecer uma parceria estratégica com a China, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e o Brasil é o país latino-americano que assinou o maior número de acordos e documentos bilaterais com a China (mais de 120). É de se esperar que, em um futuro próximo, as relações entre Brasil e China fomentem outros vários ineditismos.

    (*) Pesquisador Sênior do Charhar Institute (China)

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